O aumento de peso, um fator agravante da endometriose

[Artigo atualizado em 18/09/2023]

A endometriose caracteriza-se pela presença e proliferação de tecido endometrial (tecido que reveste o interior do útero) fora da cavidade endometrial. As manifestações clínicas são variadas.

Estende-se geralmente ao fundo de saco de Douglas ou aos ovários e pode provocar hipertrofia ovárica. Pode também envolver locais distantes (pulmão-ombilicus). A endometriose é raramente encontrada após a menopausa.

O excesso de peso de tipo ginóide (“os famosos alforges”) é frequentemente o indicador clínico de um excesso de estrogénios (estrogénio: hormona sexual feminina ou mensageiro), um fator de risco reconhecido na endometriose.

A tríade “morfotipo ginóide, aumento de peso e hiperestrogenismo” é o cocktail perfeito para a endometriose.

E depois há a alimentação inflamatória ou “ardente”, hipertóxica (excesso de aditivos, pesticidas, metais pesados, etc.) e refinada (deficiente em micronutrientes como vitaminas, minerais e oligoelementos), responsável pelo agravamento da endometriose.

A primeira alavanca consiste em agir através da alimentação para favorecer a perda de peso e reduzir a carga de estrogénios.

Excessode peso : o excesso de tecido adiposo (gordura corporal) favorece a *aromatização periférica dos androgénios em estrogénios e, consequentemente, o excesso de estrogénios (*aromatização periférica é a transformação, pela enzima aromatase localizada no tecido adiposo, dos androgénios (hormonas masculinas) em estrogénios (hormonas femininas)).

Aumentar as fibras ou os prebióticos

Porquê?

• Ajuda a eliminar os estrogénios;
• Capital para o microbiota ou flora intestinal: a fibra é a “despensa” dos colonócitos (os que se encontram na mucosa do cólon). Se os colonócitos forem deficientes em fibra (inulina, FOS, etc.), atacam o muco que desempenha um papel protetor do seu intestino e tornam-se também autofágicos. Encantador, não é?
• Facilitar o trânsito;
• Reduzir o pico de glicémia pós-prandial;
• Reduzir o risco de cancro colorrectal;
• Contribuir para a perda de peso.

É importante ter um equilíbrio entre fibras solúveis e insolúveis.

Como é que isso acontece?

• Escolha alimentos integrais ou semi-completos com amido de origem biológica. Aconselho-o a comprá-los a granel (biológicos), que também não são hiperglicémicos. Leguminosas: pelo menos 3 vezes por semana;
• Coma legumes biológicos da época em todas as refeições. (frescos ou congelados) ;
• 1 legume verde por dia (a clorofila é um excelente desinfetante intestinal/ Pode fazer sumos verdes regularmente com um extrator de sumos: os fungos intestinais detestam a clorofila!
• 1 vegetal de cor /dia ;
• 2 a 3 peças de fruta biológica e da época por dia (de preferência de manhã e por volta das 16-17 horas);
• Comer 1 a 2 porções de frutos oleaginosos por dia (ao pequeno-almoço e por volta das 16-17 horas);
• Algas marinhas.

Aumentar os legumes crucíferos: 3 vezes por semana.

Nota: o fígado tem 3 vias de eliminação dos estrogénios: 2 vias tóxicas: 16αOH (altamente tóxico: cancerígeno) e 4αOH e 1 via não tóxica: 2αOH. A título informativo, existe um teste (proposto pelo laboratório Barbier, por exemplo) para determinar se o fígado elimina pela via tóxica ou não tóxica dos estrogénios: medição urinária de 2/16 OH OESTRONA.

Os brócolos contêm igualmente DIM (Diindolylmethane), que propicia a indução da via 2-OH, uma via hepática não tóxica de eliminação dos estrogénios. A suplementação com DIM na micronutrição será de grande interesse no contexto do hiperestrogenismo inerente à endometriose.

Todas as crucíferas (brócolos, couve-flor, couve chinesa, couve galega, couve roxa, repolho, rabanete, couve-de-bruxelas, nabo, etc.), que participam na fase 2 da desintoxicação hepática graças a dois nutrientes: o indole-3-carbinol e o sulforafano (muito abundante nos brócolos e nas couves-de-bruxelas), ajudam a eliminar as substâncias cancerígenas.

Aumente o seu consumo de fito-hormonas: lignanas e isoflavonas

Sementes de linhaça dourada biológica: 1 a 2 colheres de sopa por dia. As sementes de linhaça contêm fito-hormonas, denominadas lignanos, que contribuem para retardar a aromatização periférica dos androgénios em estrogénios. Os lignanos são metabolizados pela flora intestinal saudável em enterolactonas (imperativamente), as moléculas activas. Por conseguinte, se eu sofrer de disbiose, os lignanos não serão metabolizados. Em caso de suspeita de disbiose, aconselhar-se sobretudo com um profissional especializado em fitonutrição (médico, nutricionista ou Heilpraktiker). A toma de um suplemento de lignanas através da micronutrição será muito útil para inibir a aromatização dos androgénios em estrogénios.

Isoflavonas (salvo contra-indicações terapêuticas), lúpulo, soja, etc. Têm um efeito competitivo sobre os receptores de estrogénios. As isoflavonas têm um efeito estrogénico muito mais fraco do que os estrogénios, razão pela qual são tão úteis.

Atenção: Qualquer suplementação (micronutrição, fitoterapia, gemoterapia) deve ser efectuada por um profissional de saúde especializado em micronutrição, fitoterapia ou gemoterapia.

Aumentar o Ómega 3 e assegurar uma escolha correcta dos lípidos

Os estrogénios ligam-se a um recetor nuclear (uma cadeira na membrana do núcleo da célula) e a atividade estrogénica tem lugar. Mas os estrogénios também se ligam a um ácido gordo presente na célula: diz-se que os estrogénios se esterificam.

Se o estrogénio estiver esterificado (ligado) a um ácido gordo saturado (por exemplo, ácido palmítico): a atividade estrogénica será elevada.

Se o estrogénio for esterificado com um ácido gordo polinsaturado (por exemplo, ómega 3): a atividade estrogénica será mais fraca.

Entende-se que a impregnação estrogénica é altamente dependente do conteúdo de ácidos gordos da célula.

Recomendação: todos os dias!

Funções: anti-inflamatória; essencial para todas as mucosas, incluindo o revestimento uterino; liquefactores das membranas celulares; liquefactores do sangue; prevenção cardiovascular e resistência à insulina; emocional; memória.

Em que alimentos?

• Fontes animais: peixes gordos e semi-gordos (DHA/EPA): 2 a 3 vezes por semana. Devido aos metais pesados, preferir os peixes pequenos como a sardinha, a anchova, a espadilha, o arenque, a cavala, a enguia e a truta salmonada. Para os grandes peixes carnívoros, opte pelo salmão escocês e pelo atum voador, por exemplo, mas coma-o ocasionalmente. Óleo de krill /Crustáceos/ Alguns mariscos.

• Fonte vegetal (α-linolénico): sementes de linhaça biológicas, sementes de chia. Óleo de linhaça, primeiro óleo de camelina prensado a frio, amêndoas, algas marinhas. Ovos ricos em Ómega 3 (Bleu Blanc Coeur, por exemplo): tudo depende da alimentação das aves. Para se tornar ativo, o ácido α-linolénico tem de ser transformado em DHA e EPA pelas enzimas dessaturase e pelos cofactores metabólicos (Mg, B9, Zn, etc.). Mas se eu tiver um défice dos vários cofactores necessários para esta transformação… deixo-vos adivinhar!

O que é que posso fazer?

É preciso comer peixes gordos: 2 a 3 vezes por semana, 1 a 2 punhados de frutos oleaginosos por dia (por exemplo, ao pequeno-almoço e ao lanche das 16h às 17h), óleos vegetais ricos em Ómega 3 para temperar. Como tratamento de primeira linha, é recomendada uma cura de 2 meses de DHA/EPA (ómega 3 de origem animal) em dose terapêutica. Qual a razão para tal? Está clinicamente estabelecido que são necessários cerca de 2 meses para que os ómega 3 penetrem nas membranas celulares. Mas é preciso ter a certeza da qualidade do suplemento alimentar, verificando: rótulo Pufanox (certificação Epax, rótulo ecológico Friend of the Sea).

Em seguida, certifique-se de que ingere uma quantidade suficiente de ómega 3.

• Os ácidos gordos trans são prejudiciais para a minha saúde (aumento de 48% do risco de endometriose): produtos industriais, alimentos fritos, cozinhados a alta temperatura e gorduras lácteas;
• O ácido palmítico está associado a um risco de 52%: óleo de palma e gorduras animais.

O que pode esperar da adoção destas diferentes recomendações?

• Redução da dor ;
• Redução da utilização de medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos;
• Uma dieta anti-inflamatória reduz a produção de citocinas inflamatórias envolvidas na proliferação e migração das células endometriais;
• Modulação hormonal (via dieta, micronutrição, fitoterapia, gemoterapia).

A saúde é um processo de tomada de consciência dos factos

Dc Inthavong